"Toda Ciência, Astronomia ... o objetivo dela é conseguir que nós possamos sobreviver [garantir a sobrevivência da humanidade]. É essa que a função da Ciência."
O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão nos deixou um legado científico extraordinário, mas é maior a sua contribuição à divulgação da Ciência, Tecnologia e Educação:
"O povo não entende a importância da Ciência e da Tecnologia, e é por isso que eu me dediquei muito à divulgação científica.
Porque eu acho que sem Ciência e Tecnologia e Educação a gente não vai conseguir uma evolução porque os outros países são muito mais evoluídos.
Acho que a imprensa não dá muita importância à Ciência, é mais ao esporte e essas coisas.
O esporte é muito importante mas o desenvolvimento científico e a Educação são mais importantes."
Considerado por nós o maior dentre os astrônomos, não só por dedicar a vida à Astronomia mas por fazer questão que nós, o povo, participemos e compreendamos todas as conquistas científicas.
"Irei para o universo absoluto.."
Prof. Ronaldo Mourão: eterna inspiração.
(1935-2014)
(1935-2014)
Ronaldo Mourão por Ronaldo Mourão:
Ronaldo Mourão: Um recorte da astronomia brasileira
Conheça a história de um dos astrônomos mais importantes do país
Aos sete anos, ele viu o seu primeiro cometa. Desde então, nunca mais parou de observar o céu. Curioso, o menino queria entender o que estava diante dos olhos e para isso, foi atrás de uma das instituições que é referência no assunto, o Observatório Nacional (ON), no Rio de Janeiro. Com o auxílio da mãe, ele descobriu uma forma de manter-se bem informado sobre as próximas efemérides astronômicas. Do outro lado da linha, o astrônomo-chefe do ON, na época Domingos Costa, atendia aos apelos do menino que passou a obter informações privilegiadas como o horário, posição dos astros e melhor local para observá-los. A aproximação com o Observatório Nacional ficou ainda mais estreita com o passar dos anos.
Aos 21 anos, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, ingressou na instituição para exercer o cargo de “astrônomo-auxiliar”. Nesse período, ele já tinha concluído a graduação em Física pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ao lado de Jair Barroso Junior, Mário Rodrigues de Carvalho Sobrinho e Oliveiros Cardoso Tavares; Mourão formou o grupo apelidado pelo então diretor, Luiz Muniz Barreto, de “Os 4 cavalheiros do ON”. A tarefa do grupo era complementar as observações de passagens meridianas necessárias para o Serviço da Hora, entretanto, eles foram muito além. O grupo reintroduziu a pesquisa no ON. No ano de 1963, o físico decide alçar voos mais altos e já em solo europeu, começa a sua especialização em Astronomia. No retorno ao ON, em 1968, ele assume o cargo de astrônomo-chefe da Divisão de Equatoriais.
Considerado uma das mais importantes autoridades em astronomia do Brasil, Ronaldo Mourão foi um defensor da memória científica do país. Sempre preocupado com a preservação e ordenação do acervo instrumental do Observatório; em 1981, o astrônomo viu a possibilidade de realizar uma das suas maiores aspirações: a criação de um espaço destinado à história da ciência nacional. Localizado na antiga sede do Observatório Nacional, a origem do Museu de Astronomia e Ciências Afins remonta a criação de grupos como o Grupo Memória da Astronomia (GMA), renomeado Projeto Memória da Astronomia no Brasil e Ciências Afins (PMAC) e o Núcleo de Pesquisa em História da Ciência (NHC), este último ganhou o status de coordenação diretamente subordinado à presidência do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) em 1984. Além das atividades de divulgação da ciência e de pesquisa em história da ciência, o Núcleo tinha a tarefa de criar um museu de ciências. Ronaldo Mourão não apenas acompanhou de perto todo o processo, como também teve participação significativa na fundação do MAST. Em 8 de março de 1985, o Museu de Astronomia e Ciências Afins foi inaugurado sob o comando do astrônomo.
Do campus do MAST para o campo literário, Ronaldo Mourão é responsável por um vasto material com mais de uma centena de artigos científicos publicados em diversas revistas internacionais especializadas em Astronomia e mais de mil ensaios divulgados em livros, revistas e jornais nacionais. Em entrevista ao Portal InforMAST, Christina Barboza, da Coordenação de História da Ciência do MAST, lembra da importância desse acervo literário para a popularização da astronomia no país: “Mourão tinha uma coluna no antigo Jornal do Brasil que durou anos, possuía ampla visibilidade, e fez muitos jovens e adultos aprenderem e interessarem-se pelos fenômenos e objetos celestes”, ressalta Christina Barboza. Entre suas obras mais significativas, podemos destacar: “Carta Celeste”, “Manual do astrônomo - uma introdução à astronomia observacional e à construção de Telescópios” e “Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica”, essa última elogiada por ilustres cientistas e escritores nacionais e internacionais, a publicação é entendida como a mais completa das Américas.
No campo astronômico, as suas principais contribuições devem-se aos estudos sobre as estrelas duplas. Em 1971, o cientista descobriu uma estrela companheira invisível da estrela dupla visual Aitken 14. Na época, ele chegou a cogitar a hipótese de estarmos perto de conhecer um novo sistema solar - só para você ter uma ideia, a descoberta dos primeiros exoplanetas foi anunciada somente em 1989. Mourão também se destacou nas observações de asteroides, cometas e pesquisas técnicas de astrometria fotográfica. Nas missões pelo Observatório Europeu Austral, em La Silla, Chile, ele participou dos estudos de reconhecimento de diversos asteroides, em parceria com o astrônomo belga, Henri Debehogne.
Ao longo da sua trajetória profissional, o astrônomo recebeu muitas homenagens, como o Prêmio José Reis da divulgação científica pelo CNPq, em 1977. A premiação é concedida anualmente àqueles que, por suas atividades, tenham contribuído, significativamente, para a formação de uma cultura científica e por tornar a Ciência, a Tecnologia e a Inovação, conhecidas da sociedade. De todas as homenagens, seguramente, a maior foi a que ele prestou ao mundo. Antes de sair de cena, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão nos presenteou com um legado inquestionável sendo a estrela maior de suas obras a astronomia brasileira.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Nasceu, em 25 de maio de 1935, no Rio de Janeiro.
Faleceu, em 25 de julho de 2014, no Rio de Janeiro.
